Nem é mais novidade a gente vir aqui e escrever que "na última temporada de desfiles, a maior tendência foi a pele natural". É assim há muitas estações. Na verdade, quando a gente ainda nem tava falando muito dessa história de mostrar a própria pele, as passarelas já vinham batendo nessa tecla: de uma beleza com cara de saudável.
Nesta temporada, porém, foi bem divertido ver uma outra tendência aparecendo forte: a pele continua muito levinha, mas as pálpebras vem coloridas com pinceladas multicoloridas, envoltas em cristais (oi, "Euphoria"!) e até com desenhos de nuvens. Fofo, né?
Mais do que isso. A tendência não é achar que agora a moda quer que a gente saia por aí com olhos carregando um céu ou um sol - embora né... o quão legal seria? E sim para nos sinalizar algo muito bacana: de como a maquiagem pode ser divertida, de como o bom humor é essencial quando a gente fala de beleza e de autorretrato. Maquiagem é, no fim das contas, um autorretrato nosso. De como o escapismo faz bem, especialmente em tempos tão sombrios.
Com o boom do skincare, começamos a ver uma certa onda de rejeição à maquiagem. O que surgiu também como reação direta à estética do contorno exagerado e da pele reboco de Instagram, em que o que mais importa é como você vai ficar na foto.
De repente, a única coisa que passou a valer é usar maquiagem quase zero. Na paralela, tem também aquele discurso de que maquiagem é opressão, que é pressão da sociedade...
Mas não seria o relacionamento de cada um com maquiagem algo tão subjetivo? É maravilhoso demais o momento que estamos vivendo, de celebrar o autocuidado, a saúde, de descobrir a nossa pele e através dela uma dimensão totalmente nova do que e de quem nós somos. Skincare é uma jornada sem volta e muito linda.
Mas maquiagem também é uma ferramenta incrível. Pergunta para o garoto que ama maquiagem e vê neste tipo de cosméticos a liberdade absoluta de ser quem ele é (ou quer ser naquele dia). Pergunta para a Siouxsie Sioux, que criou um visual gótico nos anos 80, se o rosto branco e preto não é parte fundamental da personalidade dela e um grito de autoexpressão. Pergunta para a mulher que acordou meio desanimada e só de passar o batom vermelho já ganhou mais fôlego.
Gosto de pensar que, por trás de tantos olhos coloridos e animados das passarelas deste mês de desfiles, a mensagem é descontraída: relaxe. Mostrar a nossa pele e nossos traços como eles são, é libertador. Todo mundo deveria sim aprender a fazer - se assumir, afinal! -, mas naqueles dias em que a realidade apenas não é o suficiente, nossas pálpebras viram quadros e nossas bocas viram motores pinks, vermelhos, pretos.
Sim, a tendência da pele levinha continua sendo a mais forte - vide tantos lançamentos de bases nesta linha -, mas a pele "real, lavada" não é a que "tem que ser". Tem que ser o que funciona para você. Como nos falou tão bem a Dra. Carla Vidal em uma de nossas conversas sobre skincare, "é para ser prazeroso. Do momento que não é, não está dando certo". É o mesmo para maquiagem.
Que máximo a nossa pele viçosa e levinha. Mas que máximo também ainda saber que maquiagem mais "aparecida" também pode ser divertido pra quem quer. E tá tudo certo! Relaxe e divirta-se!
"Amo o fato de que posso brincar com a minha imagem a meu favor e, muito como um pavão usa suas penas para atrair seguidores, é algo poderoso".