Eu me lembro bem de quando escrevia para o Petiscos, ao longo de seus pouco mais de dez anos de vida: quando falávamos de beleza, o assunto número um entre nossas leitoras era pele acneica. A maior preocupação de nossos meninos e meninas era controlar espinhas, eliminar cravos e daí por diante.
Mas você já reparou que de um tempo para cá, quando se fala em pele, a questão da sensibilidade é cada vez mais latente? Não é nenhuma coincidência ou "tendencinha de beleza": nossa pele está ficando mesmo mais sensível, e o próprio Google confirma: as buscas por "pele sensível" mais do que duplicaram nos últimos cinco anos, mundialmente falando. E não só isso: segundo dados do Mintel Global New Products Database, um site que analisa e explica novos produtos lançados no mercado, entre janeiro e outubro de 2017, 23% dos cosméticos lançados na Coreia do Sul foram pensados especificamente para peles sensíveis (para se ter uma ideia, em 2014 essa porcentagem era de 11%).
Ah, e tem mais dados: cerca de 50% das mulheres afirmam ter pele sensível, segundo dados da Biblioteca Nacional de Medicina do Instituto Norte-Americano de Saúde. Mas então, o que será que aconteceu? A resposta é aquela de praxe: uma série de fatores. Para começar a entender o "fenômeno", começamos pelo básico:
O que é pele sensível?
Basicamente, é uma pele suscetível a vermelhidão, inflamação e ressecamento. Isso acontece porque a camada mais superficial da pele é mais fina, e consequentemente mais "fraca". Com essa camada mais fina, a pele pode não conseguir segurar sua hidratação ao mesmo tempo em que poluentes e agentes alergênicos tem a possibilidade de prenetar em camadas cutâneas mais profundas mais facilmente.
O resultado? Isso mesmo, irritação. Em uma matéria super esclarecedora no site da Vogue britânica, o dermatologista Dr. Sam Bunting explica que o traço mais característico de uma pele sensível é inflamação - que pode ser acne, rosácea, eczema ou até peles normais que começam a arder em reação ao ativo de um determinado cosmético. Ele também alega que cada vez mais pacientes tem visitado seu consultório afirmando ter pele sensível.
Para outra dermatologista britânica, a Dra. Stefanie Williams, que também colaborou com a matéria, quando se fala de pele sensível é essencial antes de mais nada que se descubra o que exatamente está causando as reações, afirmando que há "diversas abordagens terapêuticas" para o tratamento dos casos.
O melhor approach? Consultar um dermatologista. Por outro lado, a dermatologista americana Whitney Bowe, autora do livro "The Beauty of Dirty Skin", afirma em uma matéria para o site de beleza MindBodyGreen que tem diversas pacientes que chegam em seu consultório alegando ter pele sensível quando não é o caso. Muitas vezes, basta dar alguns passos atrás em sua rotina de skincare que sua pele volta ao normal, ela conta.
Fatores que contribuem para a pele sensível
Como já foi mencionado ali em cima, as inflamações, vermelhidões e outras reações cutâneas podem ser reação direta a um ativo específico, mas há também outros fatores nesta tão temida lista: poluição, fumaça, radicais livres, exposição ao Sol e, como cita muito bem outro dermatologista britânico na matéria da Vogue, Dr. Howard Murad, até mesmo nossos celulares. Há ainda fatores internos: coloque nesta lista stress, ansiedade, medicamentos e hormônios, por exemplo.
Mas o que pode estar piorando muito essa questão da sensibilidade na pele pode ser surpreendente (ou não!): nossas próprias rotinas de skincare e suas radicalizações: uma rotina de skincare que permanece estática por anos e anos, por exemplo, sem levar em conta as mudanças da pele, pode torná-la sensível.
Por outro lado, começar a surtar com uma rotina de skincare de várias etapas e incontáveis produtos, além de ferramentas e mais ferramentas (escovinha de esfoliação, lembra delas?), podem estar agravando o caso muito mais do que ajudando.
Como lidar com a pele sensível
É preciso equilíbrio, e escutar a nossa pele com carinho, deixar que ela guie o ritmo.
E mais: é preciso identificar o fator irritante e controlá-lo. Tem pele sensível? O ideal, então, é cuidar para não esfoliar demais a pele, o que pode enfraquecê-la ainda mais. Lembra que a gente falou semana passada sobre o que fazer quando nossa pele se rebela? A primeira dica era dar uma controlada nos cosméticos e optar por versões levinhas até que se identifique o que causou a reação (não precisa parar tudo, hein!?).
É a mesma coisa quando se fala em pele sensível. Um sabonete a base de água termal pode ajudar bastante, assim como um hidratante suave - preferivelmente sem perfume. Os dermatologistas que contribuíram para a matéria da Vogue britânica indicam ainda o uso de niacinamida, um composto de vitamina B3 solúvel em água que não irrita a pele e melhora sua hidratação. Além disso, as palavrinhas mágicas "não-comedogênico" também devem entrar no seu radar se você tem pele sensível.
Por aqui, a gente também já deu dicas valiosas para quem tem pele sensível, quando falamos sobre como inserir novos cosméticos em nossas rotinas: comece com um de cada vez, em doses homeopáticas (alternando os dias, por exemplo), para ir acostumando a pele. Quando se trata de filtro solar (sem esquecer a região dos olhos!), comece com fatores de proteção mais baixos e vá aumentando aos poucos.
Mais uma dica? Experimente o novo cosmético que você quer inserir na sua rotina de skincare na pele do lado de dentro do seu braço, abaixo das axilas, sabe? O Dr. Howard Murad explica que essa área tem a pele bem parecida com a do rosto quando se fala em sensibilidade. Se der alguma reação, de quebra, é fácil de esconder.
A conclusão é bem fácil: cuide mais da sua pele, enxergue toda a amplitude de tudo que a cerca e não fique muito nervoso com uma rotina de skincare de vários passos. Não é essencial para a sua sobrevivência seguir o passo-a-passo de cinco etapas das coreanas, por exemplo. E lembre-se sempre: o que funciona para uns, pode não funcionar para outros. E tudo bem. Isso você vai descobrindo se conhecendo, antes de mais nada. E sempre, sempre mesmo, tenha o acompanhamento de um dermatologista.