Em uma viagem há cerca de três semanas, minha mãe e eu entramos numa loja de cosméticos multimarcas em Colônia, na Alemanha. Do lado de fora avistei uma marca dessas mais novas que gosto, e entrei animadíssima para comprar um de seus famosos blushes. Andando um pouco pela loja de dois andares, comecei a ver que a seleção de marcas era afiadíssima.
Havia os espaços daqueles nomes mais clássicos, mas havia muitos de marcas emergentes, novas, estes que faziam palpitar muito mais meu coração. O caixa para pagar o tal blush que peguei era no segundo andar. Ao subir a escada, o coração ficou ainda mais acelerado de emoção: quantas marcas bacanas lado a lado! Ficamos um tempão ali, eu mostrando para minha mãe desde o que havia de mais legal e novo às fórmulas veganas que valia à pena ela conhecer.
Ao sair da loja com nossas sacolinhas, me dei conta de que nosso momento de beauté tão animado girou basicamente em torno de fórmulas veganas, de novas marcas, da delícia de se ter um ritual, da sensação, da textura. E pensei em quando vim morar na Europa há mais de 11 anos e, escrevendo sobre beleza para o Petiscos, por muito tempo eram os mesmos nomes que dominavam o mercado e os nossos desejos.
Tinha que ser o esmalte X, a base Y, o batom Z. A cada novidade a gente saía correndo para testar, sem nem pensar que poderiam haver outros peixes neste vasto oceano chamado beleza. Era legal também, claro, mas desta vez minha experiência com minha mãe numa loja de cosméticos multimarcas falando de beleza foi mais profunda. E mais livre também.
O diálogo foi mais profundo, me pareceu. Falamos sobre fórmulas o tempo todo, sobre o clean beauty, sobre o vegano, sobre as diferenças de cada um. Sobre embalagens e seus descartes.
A revolução que a gente vive atualmente na indústria da beleza é, de fato, sem volta. Após uma geração que começou a abrir os olhos para a importância da transparência em tudo o que consome, veio outra que tem isso como sua maior exigência. E como que a gente volta atrás quando está acostumado com a verdade?
Fiquei pensando sobre a queda daquele fenômeno das "it bags", lembra? Tinha que ter a bolsa tal, e a cada temporada vinha uma bolsa tal nova que todo mundo desejava e precisava comprar de novo, até ela "sair de moda". Faz tempo que quem curte moda se desvencilhou desta obrigatoriedade (a própria Silvia Venturini Fendi, da Fendi, já declarou o fim dessa era!) e começou a achar muito mais bacana conhecer marcas novas do que se dobrar a preços cada vez mais altos por peças que todo mundo vai ter. O legal virou você descobrir o novo, conhecer quem está por trás, e sair do eixo das grandes maisons desse universo. Na paralela disso, os acessórios feitos a mão foram ganhando mais destaque, junto com a produção menor, mais sustentável.
A sustentabilidade é palavra de ordem em todas as indústrias, mas na beleza sinto, de verdade, que ela vem acompanhada de muito mais autoconhecimento e de uma jornada sem volta. Não é tendência. É um hábito que a gente já incutiu nas nossas vidas. E que não temos qualquer pretensão de largar.
Ela vem acompanhada dessa liberdade da gente ser quem a gente é - a beleza maior do skincare -, do que era um monólogo virar um diálogo. Que legal que o novo sempre vem. E que legal quando ele vem trazendo tantos ventos bons.