Por que se tornou normal sermos tão violentas com nós mesmas?

"Estou uma porca de gorda!"
Foram estas as palavras proferidas por uma mulher, em um espelho, numa loja carioca, na frente de tantas outras mulheres, que geraram a pergunta: se tornou normal nos violentar desta forma?

Foto: Septian Simon/ Unsplash

É engraçado como tem coisas com as quais a gente vai se acostumando e que, por mais duras que sejam, acabam se tornando triviais. Outro dia, estava no provador de uma loja experimentando algumas peças de roupas. Ao meu lado, uma mulher fazia o mesmo. Saímos nós duas de nossas cabines exatamente ao mesmo tempo. Ela experimentava uma saia de pregas linda (que imediatamente pedi para provar igual, afinal de contas, não perdemos tempo, risos), e estava ótima.

A vendedora fez sua parte: "Ficou ótimo, né?"
A cliente reclamou: "Que nada, eu engordei muito".
A vendedora retrucou: "Não achei não!"
A cliente, mais uma vez, reforçou: "Você está sendo educada. Eu estou uma PORCA de gorda".

Imediatamente, ao ouvir não apenas as palavras saírem de sua boca, como a violência com a qual cada palavra foi pronunciada - especialmente "PORCA" -, fiquei tão chocada. O que é que nos leva a ter esse tipo de relacionamento tão cruel com nós mesmas? Como chegamos a um ponto em que se tornou normal nos agredir desta forma? É sério que é assim que falamos de nós mesmos?

A gente engorda, a gente emagrece. Tem gente que se prefere maior, tem gente que fica mais feliz quando emagrece, tem gente que não liga. Absolutamente nada disso vem ao caso. O que vem ao caso é como a gente chegou num ponto em que acha normal se agredir desta forma em frente ao espelho - seja só dentro da nossa cabeça ou em voz alta, na frente de todo mundo.

A mulher levou a saia. Eu fui embora da loja pensando se toda vez que ela vestir a peça (que contou estar comprando para o Natal), vai se olhar no espelho e se achar uma "porca de gorda".

Será que a gente precisa mesmo falar assim da gente mesmo? Se sentir insatisfeito com a sua aparência faz parte da vida, todo mundo passa por isso. Mas transformar essa insatisfação em violência já é um passo além. E não vale à pena.

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