É engraçado como tem coisas com as quais a gente vai se acostumando e que, por mais duras que sejam, acabam se tornando triviais. Outro dia, estava no provador de uma loja experimentando algumas peças de roupas. Ao meu lado, uma mulher fazia o mesmo. Saímos nós duas de nossas cabines exatamente ao mesmo tempo. Ela experimentava uma saia de pregas linda (que imediatamente pedi para provar igual, afinal de contas, não perdemos tempo, risos), e estava ótima.
A vendedora fez sua parte: "Ficou ótimo, né?"
A cliente reclamou: "Que nada, eu engordei muito".
A vendedora retrucou: "Não achei não!"
A cliente, mais uma vez, reforçou: "Você está sendo educada. Eu estou uma PORCA de gorda".
Imediatamente, ao ouvir não apenas as palavras saírem de sua boca, como a violência com a qual cada palavra foi pronunciada - especialmente "PORCA" -, fiquei tão chocada. O que é que nos leva a ter esse tipo de relacionamento tão cruel com nós mesmas? Como chegamos a um ponto em que se tornou normal nos agredir desta forma? É sério que é assim que falamos de nós mesmos?
A gente engorda, a gente emagrece. Tem gente que se prefere maior, tem gente que fica mais feliz quando emagrece, tem gente que não liga. Absolutamente nada disso vem ao caso. O que vem ao caso é como a gente chegou num ponto em que acha normal se agredir desta forma em frente ao espelho - seja só dentro da nossa cabeça ou em voz alta, na frente de todo mundo.
A mulher levou a saia. Eu fui embora da loja pensando se toda vez que ela vestir a peça (que contou estar comprando para o Natal), vai se olhar no espelho e se achar uma "porca de gorda".
Será que a gente precisa mesmo falar assim da gente mesmo? Se sentir insatisfeito com a sua aparência faz parte da vida, todo mundo passa por isso. Mas transformar essa insatisfação em violência já é um passo além. E não vale à pena.