Por: Monique Lemos
Passamos e seguimos enfrentando momentos de instabilidade e a pele não ficou ilesa. Ela sofreu com efeitos de muito estresse e excesso de trabalho, maskne, insônia e muitos outros fatores. De um dia para o outro, todos os rituais foram abandonados, o que significa perder pontos de referência vitais, ficar sem âncoras e entrar em uma sensação de perda de controle, como afirma Carlos Maria Alcover, professor de Psicologia Social da Universidade Rey Juan Carlos.
Respondemos a isso por meio de desejos de controle e colocamos muito foco na pele do rosto. E, assim, buscamos resultados rápidos para evitar quaisquer questões que afetassem nossa pele, rejeitando os efeitos pandêmicos sobre ela. Muita frustração e ansiedade gerados pelo excesso de tela e de comparação, já que tinhamos apenas o rosto - o nosso e o dos outros no feed ou no Zoom - como janela para o mundo.
Agora, com o retorno da possibilidade de viver o mundo com o corpo, estamos entendendo como fazer tudo de novo. Retomando exercícios ou a compreensão de que seria massa seguir com eles depois de tanto tempo reduzidos a espaços pequenos - abstratos e reais -, e buscando mais rituais que permitam a reconexão com o corpo.
Sobre esses rituais que gostaria de falar: estamos atentes e falando mais sobre saúde mental, exercícios, alimentação, autocuidado e coisas do tipo. Mas ainda são categorias partilhadas sobre o mesmo corpo, como se ações pontuais unidas fossem resolver todas as questões - sabe quando você acha que tem só uma dor de cabeça e na verdade é uma soma de fatores, como cabeça e estômago? Então!
Estamos subestimando o potencial do corpo todo, mas foi de corpo inteiro que sobrevivemos, como li uma vez na News From Futuro. Foi com o corpo todo - e vacina - que não morremos! E pensando na pele - do rosto e do corpo -, não há fronteiras entre o que está fora ou dentro, são fluxos contínuos e precisamos oferecer e reconhecer como alimentá-las positivamente.
A pergunta é: o que estamos fazendo pra reorganizar o corpo? Quais os rituais-práticas-hábitos que atingem ele todo? Oferecendo um conjunto de experiências sensíveis - estéticas, poéticas, sensoriais - que irá nos permitir essa exploração. Do transe do carnaval, a um passeio na rua, pisar na grama, mergulhar no mar, passar um creme com calma e intenção sentindo cada parte do nosso corpo. Para ser autocuidado precisamos nos oferecer tempo e respeito por tudo o que vivemos até aqui. Uma união de convites e rituais de múltiplas linguagens para refazer nossas conexões vitais. <3
Monique Lemos é antropóloga, pesquisadora, estrategista criativa, fundadora e CEO da Topográficas: consultoria de pesquisa, estratégia e criação de novas narrativas para futuros plurais.