O Monty Python tem um sketch muito engraçado chamado "Four Yorkshiremen", que eles fizeram juntos pela primeira vez no Hollywood Bowl, em 1982. E é mais ou menos assim: quatro caras riquíssimos, sentados tomando um whisky e competindo quem teve a infância mais difícil. É maravilhoso.
Se você cortar para 2020, vai ver o sketch da trupe britânica em escala mundial:
"Nossa, como tá difícil, passo o dia em frente ao computador trabalhando, sem descanso."
"Sorte a sua! Eu passo o dia na frente do computador e ainda tenho filhos para cobrar dever e dar atenção."
"Filhos? Sortudíssimo! Quisera eu só me preocupar com trabalho e filhos: experimenta assistir aulas da faculdade pelo Zoom o dia inteiro!"
Olha: eu trabalho em home office. Tenho duas filhas em idade escolar. Mas ao conversar com nossa turma de estagiários na Sallve, eu passo o troféu: trabalhar e cursar faculdade durante a quarentena é tarefa dificílima. "Eu tenho aulas terça-feira o dia inteiro, em videoconferência. Dá para imaginar a dificuldade que é para se concentrar", conta Marcus Amaral, que cursa engenharia química na USP. "Fora as muitas entregas semanais", completa.
Trabalhar + estudar
"Para suprir a ausência física, os professores estão passando muitas atividades, e estou com dificuldade de conciliar isso com o trabalho", comenta a Julia Marciano, que cursa publicidade e propaganda na Anhembi Morumbi.
Trabalhar em esquema home office, vai, já ficou mais fácil com o passar dos dias. Porém, estudar em plena quarentena pode ser mais complicado: é preciso concentração extrema para a maratona de aulas, é obrigatório deixar o celular de lado para poder focar no que o professor está ensinando.
Se você está exatamente nesta situação, este post é para você: todinho com dicas de nosso time de estagiários para não comer mosca e continuar tocando seu curso sem se prejudicar - ou dormir no meio de um Zoom.
O maior desafio de se estudar em plena quarentena
Para a Jamilly, que cursa jornalismo na PUC-SP, o maior desafio desta jornada de cursar faculdade em casa é adaptar a mente e o corpo à nova rotina. "Esses ciclos de quando as coisas estavam normalizadas, com todo um ritual de acordar, ir até a faculdade, ter intervalo, conversar com amigos e tal, fazem muita falta nesse momento", ela conta. "A maior dificuldade é se adaptar aos prazos impostos na entrega dos trabalhos, evitar as distrações e focar 100% no momento da aula online."
Já para a Gabriela, que cursa administração na Fundação Getúlio Vargas, uma grande dificuldade é "manter a concentração nas aulas que acabaram se tornando muito expositivas e com pouca interação entre os alunos e os professores", conta.
Ricardo Suzuki, que cursa economia na Universidade Mackenzie, por sua vez, aponta outro problema deste formato de aulas: "Acho que o maior desafio que estou enfrentando agora é a falta de eficiência que as universidades - que no geral são muito arcaicas quando se trata do uso da tecnologia - possuem para se adaptar a momentos como esses. Professores perdidos, falta de comunicação, plataformas online que não suportam o número de acessos... Enfim, problemas como esses."
Os truquinhos para driblar as dificuldades de ter que cursar uma faculdade em quarentena
Da mesma forma que home office tem seus truques para render mais, os universitários também já desenvolveram seus métodos para não se perder nos estudos. A Jamilly faz uma listinha de tudo o que tem para fazer, e busca finalizar seus trabalhos logo após as aulas. "Além disso, tenho tentado fazer pelo menos uma atividade por dia."
Para driblar esse enorme espaço que se abriu na comunicação entre alunos e professores, a Gabriela anota o máximo possível durante as explicações e, focada, deixa suas dúvidas para tirar logo ao final da aula, ou via email direto para o professor. "Outra dica para fazer os estudos renderem é descobrir qual é seu horário do dia mais produtivo e deixar esse tempo sempre reservado para fazer os trabalhos ou só revisar a aula mesmo."
Mantenha sua rotina
Sabe quando falamos tanto que manter sua rotina de acordar, tomar café, se arrumar e tudo mais, antes de começar seu home office? O mesmo vale para estudar, segundo a Jamilly, que lista seus conselhos: "Continuar a fazer os ciclos que já aconteciam - como acordar, tomar um café, lavar o rosto - e fazer anotações durante a aula para ter foco total no que o professor(a) está falando. Conversar com os colegas de classe e ver o que eles estão achando da aula e o que compreenderam também ajuda."
Separe tempo e um espacinho para seus estudos
"Ter um cantinho de estudos e utilizar os bons e velhos papel e caneta para anotar tudo" também é uma dica da Jamilly. "Separe um dia para conferir os estudos. Acima de tudo, compreenda que é só uma fase, logo tudo isso passa e valorizaremos muito mais nossos professores e as estruturas das respectivas instituições de ensino."
O Marcus reforça a mesma ideia: "Eu separo minha terça-feira toda para coisas da USP (o que já acontecia quando eu estava em aula presencial). O meu time já se organizou para funcionar sem mim neste dia. Eu não pego em nada de trabalho (Slack, Gmail, Whatsapp, Asana) às terças que não seja extremamente urgente".
Uma dica interessante para organizar seu tempo? Uma planilha. Quem utiliza esse método é o Ricardo: "Ter uma planilha de Excel, por exemplo, para contabilizar as horas dedicadas a cada atividade, a fim de ter uma visão geral e identificar desequilíbrios, é muito importante. Eu uso uma planilha como essa. Nela, consigo saber quantas horas estou investindo em cada atividade. A partir daí posso remanejar minhas horas ou até mesmo tomar um café tranquilo, sabendo que está tudo sob controle." Organizadíssimo!
Tem hora para começar e para parar sim
Da mesma forma que nossos dias na faculdade têm horário para começar e acabar, nossos dias de acompanhar aulas e entregar trabalhos em casa também. E quanto antes você fizer, melhor. "Saber que em algum momento eu vou parar e não vou fazer mais nada me faz agilizar minhas entregas, daí acabo procrastinando menos", conta o Marcus.
Esconda o celular!
Estar sozinho em casa e ter que estudar pode abrir espaço fácil para ficar se distraindo com o celular. Por isso, a dica do Ricardo bate justamente nesta tecla: ele tira o celular de vista. "Eu escondo. Não necessariamente o celular deve estar desligado ou muito longe de você - você pode acabar precisando e levantar para buscá-lo consumirá ainda mais tempo -, além de haver outras distrações no meio do caminho que podem te atrasar ainda mais. O grande truque em esconder celular é que o gatilho para você desbloqueá-lo e entrar no Instagram é o simples fato de estar vendo o aparelho. Então à partir do momento que você o esconde, você desativa essa gatilho fazendo com que essa distração não tenha mais tanta influência sobre as suas atividades."
O "Método Pomodoro"
Outra dica do Ricardo é o método de quebrar longas horas de trabalho em blocos menores, com pequenos intervalos: "Este método se baseia na lei dos rendimentos decrescentes, que diz que quanto mais tempo você trabalha, menos produz por unidade de tempo trabalhada. Fazer essas pausas é ótimo para o cérebro, já que ao se desligar por alguns minutos, o cérebro dá um reset e volta a trabalhar com potência máxima, sendo muito mais produtivo do que em uma situação de longas horas consecutivas de trabalho."
Tem recompensa mais gostosa que uma pizza? <3
Utilizar suas indulgências favoritas como gatilho para ficar em dia com seus trabalhos de faculdade é mais uma dica do Ricardo. "Criar micro objetivos durante as atividades e estabelecer recompensas caso o atinja cria um gatilho para ação perfeito, é como uma auto-sabotagem do bem", ensina. Pizza ou brigadeiro hoje à noite, hein?
Dê espaço para seu cérebro descansar também
Não adianta de nada sobrecarregar sua mente. O que nossos estagiários ressaltam em uníssono é a importância de saber parar e se dar um descanso: seja assistindo seriados ou filmes, lendo livros, cozinhando ou investindo em um hobby. Você merece relaxar e se desligar um pouco. Ou sua cabeça não vai funcionar: "Não está sendo fácil conciliar produtividade, saúde mental e ainda escrever meu TCC de engenharia química. Daí, por mais que eu tente seguir todas essas regras, o meu maior foco é em ficar bem e me cuidar", conta Marcus.
E, por último, tolerância com seus professores
Você já pode ter nascido na era digital, mas seus professores não. E muitos deles não têm lá muita intimidade com as ferramentas e comunicação do online (alô leitura de slides no Hangouts!). Por isso, tenha um pouco de paciência e tente ajudar do seu lado também. "Os dois lados ainda estão aprendendo, tanto a assistir quanto a dar uma aula online", diz a Gabriela. "Temos professores um pouco mais velhos que têm mais dificuldade, então os próprios alunos estão ajudando-os a aprender mais rápido. Essa segunda semana já teve uma super melhora!"
Viu? Tolerância, em todos os campos. Vamos juntos. #cuidesecuide!