Outro dia, passeando pela internet, dei de cara com uma chamada: "Fulana sai para jantar com o marido sem maquiagem". Você fatalmente já deu de cara com uma manchete dessas. Não precisa nem ler o texto para saber como ele se desenrola: "Provou que é linda até de cara lavada".
Cliquei no artigo, lá estava fulana, de fato, saindo para jantar com o marido e aparência de cara lavada, em uma foto de paparazzi. Quem tem o olho mais treinado sabe bem que ali tinha algum BB Cream, algo que fosse apenas para dar uma uniformizada no tom da pele e conferir aquele viço bonito de pele natural. Mas a questão não é essa.
No mesmo dia, dei de cara com a mesma manchete e a mesma foto em outro site. E outro. E outro. A diferença? Nestes outros sites que também postaram a imagem, a fulana em questão estava lá, sem maquiagem, mas com várias espinhas no queixo (acne hormonal, argh!). Voltei no primeiro link em que vi a foto. Zero espinhas. Retornei aos outros. Pelo menos umas três espinhas. Não estava viajando. A primeira foto que vi, sem a menor dúvida, estava retocada.
Por que se retoca uma foto de paparazzi em que uma mulher sai para jantar com o marido sem maquiagem? Simples: porque para muitos veículos, para vender a ideia do "linda até de cara lavada", a beleza precisa ser irretocável. Ela precisa estar indiscutivelmente perfeita. A pele lisa. Ter espinhas no queixo imediatamente invalida esse conceito.
É por essas e tantas outras que tenho uma enorme preguiça desse papo do "linda até sem maquiagem" que se vende na mídia. Por que ele é tão opressor e ilusório quanto a ideia de que uma mulher só é linda se está maquiada. Fora que ele acaba colocando sobre a maquiagem um fardo de culpa, de que usar maquiagem é errado.
Depois de anos e anos de tablóides se esforçando para clicar celebridades sem maquiagem e mostrar que na vida real elas não são nada daquilo do que vemos nos tapetes vermelhos (querendo dizer que eram bem detonadas, claro), a mídia começou a adaptar essa conversa. E o grande público feminino, claro, começou a se comparar, como inevitavelmente acontece, com essa realidade. Fabricada. Isso é tão importante de dizer: é fabricado do mesmo jeito, gente.
Fotos de paparazzi são retocadas no Photoshop para vender um ponto. Selfies no Instagram são feitas sob a luz perfeita. Sardinhas, olheiras e sobrancelhas irregulares são adaptadas para se encaixar nessa narrativa, mas é maquiagem do mesmo jeito. Só que outro tipo de maquiagem - que seja apenas até na linguagem usada -, e talvez mais nociva, porque é escondida, vendida como realidade absoluta.
A internet é campo minado, e quanto mais a gente se conhece, quanto mais sabe como as coisas são na real, pra valer, mais consegue a gente consegue achar o caminho das pedras, farejar os truques de longe e se olhar no espelho sem ver mais ninguém além de nós mesmos. Que é o mais importante dessa jornada toda, né? O "linda até sem maquiagem" de acordo com os padrões superperfeitos dos outros a gente dispensa.